Aquela da ansiedade

agosto 17, 2017

Enquanto a minha máscara de argila verde seca, o incenso queima do meu lado e a Christine McVie canta Honey Hi, percebo como pequenas coisas que me acalmam, coisas tão simples. Fazer essas três coisas estão sendo uma bênção para mim, especialmente após um dia tão corrido e com tanto trabalho. Mas nem sempre consigo detectar coisas que abaixam meu nível de ansiedade.

Acho que o aspecto mais odiável da ansiedade é que ela não tem hora para acontecer. Para uma pessoa obcecada por controle como eu, isso é um tormento. Se eu pudesse colocar na agenda, organizar uma tabela, tudo seria mais fácil. Infelizmente não funciona assim, e ainda estou aprendendo a conviver com esse monstro que habita dentro de mim.

Minha primeira de crise ansiedade foi inesquecível, talvez pelo fato de eu ter ido parar no hospital por causa dela, sem saber o que estava acontecendo. Ninguém sabia o que estava acontecendo, eu não estava em casa e minha mãe atravessou uma cidade para cuidar de mim. Quando a doutora levantou essa hipótese, eu não conseguia acreditar que a sensação real de que eu estava para morrer se chamava transtorno de ansiedade. Ela aconselhou que eu procurasse ajuda, o que demorei muito a fazer. Isso só foi acontecer quando minha ansiedade chegou a níveis alarmantes.



Depois que comecei a fazer terapia, percebi que a ansiedade é uma companheira da minha vida. Ela sempre esteve ali, a diferença era que ela jamais havia manifestado sua presença. E nem me levado ao hospital, também. Porém, sempre fui ansiosa, sempre. Isso se deve, boa parte, à criação que tive, a situações que apertaram todos meus botões e me testaram incessantemente. A terapia abriu uma porta assustadora, mas o que eu enxergo por ela agora é uma saída, uma porta por onde posso conviver de maneira mais ou menos decente com todos esses problemas. É um processo de selfcare.

O meu melhor selfcare, além de ouvir música e acender incensos, é assistir filmes. Só que não pode ser um filme falado. Parece hipster demais, mas é verdade, eu só relaxo de verdade assistindo a um filme mudo, sem diálogos. Porque preciso me concentrar o dobro para acompanhar a trama, para ler o diálogo através das imagens, ler os letreiros, então me esqueço da ansiedade. Se eu assisto a um filme falado, eu vou me desconcentrar e sentir meu coração pesar. 

Ler também se revelou uma atividade muito produtiva quando estou ansiosa. Aprecio muito o silêncio que a leitura me proporciona. Até me estranhei quando me peguei preferindo ler a ver filme, quando, durante muito tempo, era exatamente o contrário. Li muitos livros no silêncio da noite, com meu gato nos pés, e eu vivo pra esses momentos. É o momento depois da tempestade que me dá a chance de eu me recompor e estar pronta para levantar cedo e dar meu melhor.

Talvez eu nunca me cure da ansiedade, porque ela é com um mar de ondas fracas e fortes. Há dias em que sou repuxada com força, mas outros em que é suportável sentir o barco balançando, mesmo que você tenha medo de cair. 

O que segura minha ansiedade

1) Heroes are hard to find - Fleetwood Mac  Meus amigos, este álbum é TUDO NA VIDA DE UMA PESSOA. Ele faz parte da fase pré-Stevie Nicks e é simplesmente demais. Tem uma pegada mais blues, com várias músicas maravilhosas cantadas pela Christine McVie. Destaque para Prove your love.


2) Fausto - Filme mudo de Murnau   OK, COMO O FILME DE FAUSTO SEGURA MINHA ANSIEDADE? NÃO SEI. Porque é assustador, sério. O ator que faz o diabo, Meu Deus, deixa a gente sem dormir por algumas horinhas.


3) Filmes mudos de comédia em geral - Harold Lloyd é a versão alternativa do Chaplin (e os fãs de ambos irão me matar por essa declaração) e não tem nada mais relaxante do que assistir a esse atrapalhado cara fazendo umas confusões muito marotas.




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2 comentários

  1. Que texto reconfortante, Jazz. ♥
    Passo pelo mesmo, e o fato da crise de ansiedade ser tão inesperada também me provoca ainda mais peso no peito, em momentos em que espera-se que alguém esteja ansioso, como apresentar-se em um evento, por exemplo, fico duplamente ansiosa, a ansiedade comum e a ansiedade por ter medo de ter uma crise momentos antes e não conseguir prosseguir [tenho pânico diante de público]. É horrível. Minha história é parecida com a sua, só dei atenção as minhas crises de ansiedade quando fui parar no hospital.

    Pra mim, filmes antigos, bons livros, a companhia dos meus gatos e uma xícara de chá também são a minha calma. Desejo abraços reconfortantes [de momentos como os que vocês citou] pra você, que um bom convívio seja possível apesar dos pesares.

    [estou ouvindo o álbum que você sugeriu, é realmente muito bom!]

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  2. Oi, amiga! <3

    Que bom que foi reconfortante para ti esse texto, ainda estou um pouco tímida para falar sobre minha ansiedade, porque é um problema muito delicado, mas acho super necessário pras pessoas entenderem que não é mimimi nosso.

    Puxa, sabe que passo por situações um pouco parecidas com as tuas, de ter pânico de falar em público. Não sei como consegui dar aula por dois anos, porque era muito doído, muito mesmo.

    Espero que a gente consiga conviver da melhor forma possível com isso, com as coisas que amamos e nos reconfortam. É muito bom ter algo para o que correr quando nada parece fazer sentido, quando você acha que o chão poderia se abrir e você entrar ali para sair da ansiedade. Como li num texto indicado por ti sobre depressão, uma pessoa que ajuda nesses momentos não é aquela que te diz "eu vou te curar disso", mas que arranja um lugar menos ruim pra ficar com você nesta condição. Eu levei isso para a vida, muito obrigada por indicar esse texto.

    Depois quero saber quais filminhos antigos seguram tua ansiedade, pois trocar figurinhas!

    [e, por favor, me fala tudo o que achou sobre o álbum, porque sou simplesmente xonada por ele!]

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