capitalismo

Uma trip muito louca chamada Vale Tudo

novembro 03, 2017


Finalmente terminei a trip louca em que resolvi me meter: assistir a novela Vale Tudo de cabo a rabo. Duzentos e cinco capítulos assistidos e aquele amargor na boca. O amargor que sentimos ao dar adeus a um parente muito querido e não saber quando poderemos revê-lo. É claro, agora posso me dedicar a outras novelas que pretendo assistir, como Força de um desejo e Rainha da Sucata, mas nenhuma delas pode suprir a ausência de Odete Roitman, Celina Junqueira e Raquel Acioli.

Sempre fui a noveleira do rolê, tendo começado nessa vida aos 10 anos com Porto dos Milagres. Naquela época, eu estava interessada numa história bacana, que prendesse minha atenção e me fizesse sonhar. Não pensava em problematizar, aliás nem sabia o que era isso. Hoje, depois de ver Vale Tudo, minha cabeça só pensava que eu precisava escrever sobre esse hino de novela, mas exatamente sobre o quê? Sobre a sororidade? Sobre a cultura do jeitinho brasileiro? Já escrevi sobre esses assuntos, mas parece que a coisa não para por aí.

Vale Tudo e as novelas dos anos 80 da TV Globo têm um molho que as de hoje, por mais que se esforcem, não conseguem atingir: elas conseguem ser tremendamente fiéis à realidade. Quando digo isso, não quero dizer que Vale Tudo foi fiel porque mostrou a corrupção e todos os personagens tentando vencer na vida a qualquer custo. Ela é fiel no texto, nos cenários, nas palavras que são colocadas na boca das personagens. Isso, eu acho, é uma das coisas mais difíceis de se conseguir em uma novela. Hoje tudo parece tão artificial, a emissora acredita que a ambientação vale mais que o texto na boca dos personagens. Em Vale Tudo, você acreditava que Ivan Meirelles poderia ser seu vizinho e que Consuelo poderia ser aquela sua amiga chatíssima. Não era uma questão de ambientar a novela em determinado lugar para trazer a realidade, porque ela já vinha pelas palavras ditas pelos personagens. A novela se passava no Rio de Janeiro, mas você não se sente distanciado dali, entende? Muito pelo contrário, você se sente próximo. É uma sensação muito doida.

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